As cacimbas são poços de onde se extraem água, sustento e sonhos. O artista visual e escritor potiguar radicado em São Paulo Thiago Barbalho, usou essa referência para inspirar sua nova exposição, “Cacimba Nova”, que será aberta dia 10 (quarta), às 13h, na Casa de Cultura em Jardim do Seridó.
A mostra conecta Thiago novamente com suas raízes seridoenses, e prova que referências de variados lugares podem se encontrar para compôr um quadro universal de identidade.
Thiago mora há 14 anos em São Paulo, onde construiu uma sólida carreira como artista visual. Há dois anos já vinha se intensificando nele o desejo de expôr sua arte no Rio Grande do Norte. Ele havia visitado recentemente o sítio arqueológico do Mirador, em Lajedo de Soledade, onde há um grande número de pinturas rupestres – algo que o tocou muito, somado à experiência pessoal com a cultura sertaneja do interior.
“O Seridó é um lugar com o qual me identifico muito. É uma região de cultura intensa e de um senso de comunidade forte. Esse tempo fora do RN aguçou ainda mais minha vontade de fazer algo por lá”, diz, ressaltando que sua mãe nasceu em Jardim do Seridó, mais precisamente numa comunidade chamada Cacimba Velha. “As cacimbas têm uma presença marcante nessas regiões de clima seco, e a relação delas com a fertilidade me inspirou a criar”, diz.
“Cacimba Nova” reúne 16 desenhos sobre papel. Parte deles, feita sobre papel artesanal de fibra de bananeira, material que releva o interesse do artista sobre processos artesanais ou manuais. O desenho, como mídia de predileção de Barbalho, é resultado desse processo de trabalho que prioriza aquilo que é “mais acessível, mais barato e disponível para que algo seja construído”.
As peças unem desenhos, muitas cores e retalhos de roupa, uma menção às famosas bordadeiras do Seridó, nacionalmente famosas. “Eu quis reunir variadas referências, desde os açudes e rios da nossa terra, até o artesanato potiguar, com suas tapeçarias e colchas. Mas eu quis fugir dos clichês associados à arte nordestina em geral. No mundo de hoje tudo se mistura, e acho que as minhas cores pop dão esse toque atual ao meu trabalho”, explica.
Parte da inspiração de Thiago também vem das lojas de artigos populares ‘made in China’. A mistura da cultura sertaneja interiorana com o comércio popular, de onde vem imagens de santo e objetos e utensílios, são pontos de partida para a produção de novos trabalhos do artista. “Me ver artista com esse referencial me fez retornar ao trabalho artesanal e pensar a ideia de mistura, ao contrário da de pureza dentro do meu trabalho”, declarou.
“Cacimba Nova” é para Thiago uma mistura de referências sobre seu sertão ancestral, de fartura, seca, açudes e rios. Uma satisfação extra, segundo ele, é poder abrir a exposição fora do eixo considerado principal nas artes visuais. “Abrir essa mostra no interior do RN, em vez de São Paulo ou Rio de Janeiro, é um deslocamento que significa muito pra mim. E prova a universalidade do que estou fazendo”.
Thiago Barbalho nasceu em Natal, e encontrou no desenho um modo de expressão que suplantou uma crise com a palavra. Trabalhando em diferentes dimensões e com diversos materiais (lápis de cor, grafite, spray, óleo, pastel oleoso e marcador sobre papel), suas composições traz formas e cores que se entrelaçam de forma intrincada e psicodélica. Entre suas principais exposições estão “Depois que entra ninguém sai” (2022), no RJ; “Correspondência” (2019), em SP; e “Thiago Barbalho”, no Kupfer Project Space (2018), em Londres.
Serviço:
Exposição “Cacimba Nova”, de Thiago Barbalho, abre dia 10 (quarta), às 13h, na Casa de Cultura em Jardim do Seridó, e fica até o dia 15/06.