Governadores de diferentes estados brasileiros se manifestaram após o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. As reações foram diferentes entre governadores alinhados à direita e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e chefes de executivos de esquerda e defensores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, criticou duramente o governo federal, acusando Lula de colocar “a ideologia acima da economia”. “Tiveram tempo para prestigiar ditaduras, defender a censura e agredir o maior investidor direto no Brasil. Outros países buscaram a negociação. Não adianta se esconder atrás do Bolsonaro. A responsabilidade é de quem governa. Narrativas não resolverão o problema”, declarou Tarcísio.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, comparou o comportamento de Lula ao do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez e sugeriu que o Congresso crie uma comissão para dialogar diretamente com o governo americano. “Com as medidas tomadas pelo governo americano, Lula e sua entourage tentam vender a tese da invasão da soberania do Brasil. Mas Lula não representa o sentimento patriótico do nosso povo, e muito menos tem credenciais para defender a soberania brasileira”, afirmou Caiado.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, afirmou que a postura do governo brasileiro pode custar caro para o país e criticou a atuação do presidente, da primeira-dama Janja da Silva e do STF. No final da tarde de quinta-feira (10), Zema mudou o tom. O mineiro passou a divulgar críticas a postura americana e classificou a medida adotada pelo presidente Donald Trump como “injusta”. “Os erros e as injustiças (no Brasil) não devem ser consertadas com mais injustiça e erro. A taxação imposta pelo presidente Trump a produtos brasileiros é uma medida errada e injusta”, escreveu Zema.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, único a defender publicamente o governo, afirmou que o Brasil não pode aceitar qualquer tipo de chantagem internacional. “A terra do 2 de Julho não abre mão do respeito ao nosso povo, da nossa independência e da nossa soberania. A gente tem lado: o lado do povo brasileiro e da democracia. Respeite o Brasil!”, afirmou o governador.
Governo do RN monitora impactos na economia
A Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte (Sedec) emitiu posicionamento sobre o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a tarifa de 50% para produtos brasileiros. A pasta informou que tem monitorado as implicações dos aumentos de tarifas desde março, quando ocorreu o anúncio das primeiras elevações.
Com a taxa já prevista para o próximo mês, a secretaria afirmou que o momento exige um acompanhamento ainda mais rigoroso e uma atuação articulada com o Governo Federal e os setores produtivos, para preservar a competitividade dos setores exportadores do RN.
De acordo com a Sedec, somente nos seis primeiros meses deste ano, o volume exportado para os Estados Unidos já se iguala ao montante exportado ao país durante todo o ano de 2024. “Diante dessas circunstâncias, é relevante fortalecer as políticas públicas adotadas pelo Governo do Rio Grande do Norte para o desenvolvimento sustentável, no que diz respeito à competitividade de nossos produtos no mercado externo”, disse a pasta em nota.
As ações recomendadas incluem: mapear com precisão as barreiras tarifárias e não tarifárias em vigor para cada produto nos EUA; investir na capacitação técnica de exportadores locais sobre exigências sanitárias e padrões internacionais; fomentar acordos comerciais e protocolos fitossanitários bilaterais, inclusive por meio de articulação federativa; incentivar o reposicionamento de produtos nas cadeias de valor globalizadas, com foco em diferenciação e sustentabilidade; e apoiar a busca por novos mercados-alvo, especialmente na Ásia e América Latina.
“Simultaneamente, há firme convicção de que as iniciativas adotadas pela Presidência da República em defesa da soberania brasileira e preservação da competitividade dos produtos nacionais no mercado externo — com assessoramento e respaldo dos Ministérios da Fazenda; do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços; e das Relações Exteriores — assegurarão a continuidade do crescimento e da prosperidade”, concluiu a nota.
Motta e Alcolumbre defendem o diálogo
Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, reagiram nesta quinta-feira (10) à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. Em nota conjunta, os chefes do Poder Legislativo citaram a Lei de Reciprocidade Econômica como possível resposta à medida.
Davi Alcolumbre e Hugo Motta lembraram que essa lei foi aprovada pelo Congresso Nacional em abril. O texto prevê medidas de retaliação a barreiras comerciais impostas por outros países a produtos brasileiros. Entre as contramedidas estão a imposição de tributos, taxas ou restrições sobre a importação de bens e serviços, além da suspensão de concessões comerciais ou de investimentos.
“O Congresso Nacional acompanhará de perto os desdobramentos. Com muita responsabilidade, este Parlamento aprovou a Lei de Reciprocidade Econômica. Um mecanismo que dá condições ao nosso país, ao nosso povo, de proteger a nossa soberania”, afirmaram.
Os parlamentares também destacaram a necessidade de diálogo nos campos diplomático e comercial como forma de defender os empregos dos brasileiros e o setor produtivo.
“Estaremos prontos para agir com equilíbrio e firmeza em defesa da nossa economia, do nosso setor produtivo e da proteção dos empregos dos brasileiros”, concluíram.
A Lei de Reciprocidade Econômica tem origem no PL 2.088/2023, projeto de lei de autoria do senador Zequinha Marinho (Podemos-PA).
Brasil “segura” até agosto resposta à tarifa
O governo brasileiro descarta dar uma resposta econômica e comercial à sobretaxa de 50% anunciada por presidente Donald Trump antes de a medida começar a valer, em 1° de agosto, data citada pelo próprio presidente americano. A avaliação é que a gestão Lula deverá usar os próximos dias para calibrar um posicionamento que não escale a crise.
O entendimento é que o Brasil deve esperar a aplicação da tarifa e evitar se antecipar à promessa de Trump. Nos próximos 21 dias, a estratégia é estudar uma reação que não prejudique a economia brasileira.
O Palácio do Planalto descarta aplicar Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso em abril, nos mesmos termos tarifários de Trump para expressar o descontentamento.
A proposta é identificar setores em que se possa dar uma resposta firme, mas sem escalar as complicações para o mercado brasileiro. O governo chamará o setor privado para discutir a reação, como previsto na legislação.
Na própria Lei de Reciprocidade, além de medidas tarifárias, há possibilidade de adoção de não-tarifárias como limitar importações de bens bens e serviços e suspender obrigações sobre o direito de propriedade intelectual.
De acordo com um integrante do governo Lula é preciso “jogar com o relógio”, usando o prazo para o início do tarifaço, para também dar tempo da questão política decantar. Para essa fonte, isso também definirá a resposta econômica.
Até agora o Brasil respondeu apenas politicamente ao tarifaço de Trump sem entrar nas questões econômica e comercial.
Em publicação nas redes sociais, o presidente Lula afirmou na quarta-feira (9) que as tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos serão respondidas “à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica”, mas sem detalhar.
“O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”, afirma Lula.
Ele disse ainda que o processo judicial sobre suposto plano de golpe de Estado é de competência “apenas da Justiça Brasileira” e, portanto, “não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das winstituições nacionais”.