Quando o Nordeste passou a ser retratado como sinônimo de atraso, miséria e ignorância? E por que essa imagem persiste no imaginário do brasileiro? Essas são algumas das questões levantadas e respondidas pelo escritor potiguar Octávio Santiago no livro ‘Só sei que foi assim: A trama do preconceito contra o povo do Nordeste’, da Autêntica Editora.
“É um projeto político, econômico e social de um Brasil que precisava criar um contraste com uma outra porção do país. Para que, nesse contraste, fosse validado o Brasil que supostamente dava certo e o Brasil supostamente não dava certo”, defende o autor.
A obra foi resultado do trabalho de pesquisa do jornalista para o seu doutorado na área de comunicação na Universidade do Minho, em Portugal.
Octávio conta que já tinha sido alvo de descriminação quando morou em Brasília e também recebeu relatos de amigos e familiares que enfrentavam problemas parecidos. Algumas das histórias estão presentes no livro de 256 páginas e foram motivações para o seu trabalho.
Na pesquisa, o jornalista encontrou outros autores que já tinham se debruçado sobre o assunto. No entanto, como o doutorado era na área comunicação, ele decidiu focar com mais profundidade na formação dos estereótipos.
“Havia muitas dúvidas sobre de fato, quem foi que colocou a gente nesse lugar menor. Quando isso aconteceu e porque essas narrativas se sustentavam assim, se retroalimentavam. Eu fui com o intuito de lançar lupa para essa origem”, disse o autor ao g1.
“Eu me baseio na teoria de que os estereótipos nunca são neutros. Eles não nascem por acaso, eles não permanecem por acaso e a busca foi por entender então, já que não havia acaso nisso, quem é que propositalmente construiu essa ideia e mantém essa ideia viva até hoje”, pontuou.
Para Octávio, a origem dos estereótipos contra os nordestinos está concentrada principalmente no Século 20, quando o Nordeste foi “separado” do Norte. Já afligida pela seca, a região recebeu investimentos no governo do paraibano Epitácio Pessoa, com oposição de grupos de interesses, que queriam concentrar esforços, investimentos e atenções em outras regiões.
“Essa mão de obra migrante, quem migrava era um nordestino considerado miscigenado demais. Então, havia uma campanha dupla, midiática, inclusive, para desqualificar os investimentos na região Nordeste e também para desqualificar essa mão de obra nossa que chegava ao Sul, para que a gente não contrariasse o interesse da elite local, que era o de garantir emprego para a mão de obra branca europeia, que era contemplada aí por uma política pública de branqueamento de população que acontecia no Brasil. O Brasil tentou branquear a população e a gente em alguma medida contrariava esse pensamento”, diz o escritor.
Após a publicação do livro, o autor conta que recebeu novos relatos de preconceitos piores do que os relatados nos livros, evidenciando que esse ainda é um problema muito presente na sociedade brasileira.
- Na segunda-feira, 16 de junho, às 17h, no Palco Petrobras, o principal da feira, com mediação do jornalista Amauri Arraes.
- Na quinta-feira, feriado de 19 de junho, às 14h, no Espaço Rebentos, com o escritor e editor Schneider Carpeggiani.
A obra é vendida por R$ 64,90 no formato físico e R$ 45,90 na versão digital.